Ambientes góticos atraem turistas à capital romana

Na Cripta dos Capuchinhos, ossos de quatro mil monges decoram as paredes do local


A Cabeça de Medusa de Bernini é um dos tesouros dos Museus Capitolinos

Roma é outra cidade abundante de ambientes góticos, e para a minha viagem levei "O Fauno de Mármore", de Hawthorne. O autor chegou ao fim de sua carreira como mestre do horror psicológico e sobrenatural da Nova Inglaterra puritana, e esse relato novelístico de viagem não é dos seus melhores.

Em dois volumes, o conto é a história de três artistas americanos que trabalham em Roma e que encontram e ficam amigos de um sátiro (uma figura mitológica metade homem, metade bode), que parece ter sido o modelo de carne e osso de uma estátua de mármore do Capitólio, uma das famosas sete colinas de Roma.

Os visitantes dos Museus Capitolinos, um conjunto de palácios romanos no topo do Capitólio, gloriosamente recheados de tesouros, encontram hoje muitas estátuas do fauno, associado a Dionísio, que representava o animal no homem, simultaneamente inocente, sexual e anárquico. O parente mais ameaçador do fauno, o sátiro, é abertamente luciferiano, com chifres e cascos. Um grande sátiro desse tipo observa atentamente de uma estante no pátio egípcio do museu.
Cripta dos Capuchinhos

Interior da Cripta dos Capuchinhos é decorado com ossos de quatro mil monges

Um passeio de ônibus ou uma caminhada descompromissada através do centro histórico de Roma leva o viajante a outra locação principal de "O Fauno de Mármore" - a assustadoramente bela Cripta dos Capuchinhos, no subsolo da Igreja Santa Maria della Concezione dei Cappuccini, onde os personagens de Hawthorne confrontam um monge.

Decorada em estilo barroco com os ossos brancos de quatro mil monges, a Cripta dos Capuchinho, próxima à luxuosa Via Veneto, é o hoje uma parada popular em qualquer tour em Roma. Mesmo macabra, ela é um local sagrado. Não são permitidos nem câmeras, nem chapéus, nem roupas abertas.

A cripta é pequena e claustrofóbica, e o cheiro nauseantemente doce dos ossos preenche uma passagem debilmente iluminada que serpenteia através de oito portais exibidores, com arabescos de milhares de ossos arrumados por tipo - dedos, patelas, fêmures, falanges, crânios – em flores rendadas, guirlandas, relógios ou urnas, atados às paredes e ao teto.

Na última sala, a mensagem sobre o chão próxima às rosas depositadas por fiéis, em cinco línguas, lembra os alegres turistas de sorver profundamente da taça das alegrias da Itália, pois a sombra eterna avança: "O que você é hoje é o que éramos nós. O que somos agora, é o que você será".

Subindo as escadas de volta às ruas de Roma, os prazeres da Itália são imediatos e acessíveis, mas também complexos. Sem a escuridão, o país poderia ser suave como a Suécia. Ver a Itália através da lente gótica aprofunda nossa apreciação da dor, do sofrimento e da morte que são, com o amor, o desembaraço e a luz, também o destino humano.